Eu
confesso: não gosto de mulheres. Para falar a verdade, acho as mulheres uma
droga. Abro ao mundo meu segredo, à revelia do que podem dizer os machões e as
puritanas. Descobri isso muito cedo, mais que o que poderia descobrir qualquer
outro homem, mas não sinto lá muita culpa. Não sinto nada além de indiferença
diante do meu gosto um tanto excêntrico.
Não
gosto mesmo de mulheres. Simplesmente as adoro.
Mulher é uma droga porque nos hipnotiza e embasbaca. Talvez eu pense assim porque
tenha crescido rodeado por elas. Foram tantas ao longo dessa minha curta
odisseia no universo! Por onde quer que eu caminhasse, lá estavam elas: a
apresentadora de programa infantil pela manhã; a repórter investigativa no
jornal da tarde; a mocinha da novela das oito que sofria por seu grande amor.
Lá estavam mãe, avó, tias, professoras, todas numa variedade quase que
inumerável, indescritível.
Na
verdade, até hoje elas são muitas. Acredito mesmo que as mulheres invadiram o
mundo ganhando todos os dias uma guerra que às vezes é bem particular, levando
adiante uma rixa que alguém um dia criou entre elas e nós, seus eternos súditos
e dependentes – nós, homens. Proliferaram-se pelos escritórios, hospitais,
salas de aula, estúdios de tevê, estantes de livros, vernissages.
Apesar
disso, o que nunca despertou muito interesse da minha parte foi o tipo
garota-propaganda de comercial de cerveja, aquela moça vestindo camisetinha
branca, completamente molhada e só com a parte de baixo do biquíni, que faz
efervescer as veias masculinas. Podem me atacar pelo que vou dizer agora, machistas,
mas na perfeição da bonitona que oferece bebida existe um quê de trivialidade,
de fugacidade, de tédio: por trás do conjunto, existe uma beleza cansada que
fermentou com a levedura e passou do ponto.
Todo
mundo, por mais leigo que seja, gosta de uma boa obra de arte, seja um filme,
uma tela ou um clássico literário, e a razão é simples: amamos tudo que nos faz
transcender, que nos eleva com um simples olhar a patamares jamais imaginados
antes. Ora, quem disse que as mulheres não são arte? Mulher é música, é poesia,
é visão e beleza. Mulher é êxtase. É um novo entorpecente que inventaram para nos
paralisar enquanto exercem o controle do mundo.
Gosto
de mulheres que são obras de arte, não pela escultura de carne e osso, mas pela
concepção interna e pelo mistério que trazem. Superficialidade não atrai
ninguém. Errou quem disse que beleza não põe mesa, mas só isso não basta: é
preciso ter o prazer de sentar-se diante dela. Aparência não é lá grande coisa.
Ao fim e ao cabo, o que todos querem é uma boa conversa com elas, regada a profundas
gargalhadas, mesmo que tudo se resolva na mesa do bar.
Mulher
boa, para mim, é mulher que anda como se carregasse nas veias o sangue de uma legítima
descendente de Capitu. Viro o pescoço para olhar quem já tem na pele a
incógnita por natureza. Não, não é ser vulgar. Não é querer possuir, com um
desejo impetuoso e agressivo: giro a cabeça para admirar, para entender, para
decifrar. Mulher boa é aquela que se torna uma pulga atrás da orelha de
qualquer homem – de qualquer um mesmo,
até daqueles que não se dedicam à causa.
Mulher
é definitivamente uma droga porque vicia. Não há como viver sem injetá-las cotidianamente
na veia. Talvez eu nunca seja capaz de entender o que faz com que nós, homens,
não gostemos das mulheres, mas as adoremos, fazendo delas verdadeiras deusas. É
provável que nenhum de nós possa, estando com alguma delas, enxergar qualquer
coisa a um metro de nossos narizes. É natural. Dizem mesmo que toda droga
entorpece.
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